segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

NAS CAVERNAS.


Procuro na memória palavras, algo que possa simbolizar traduzir algo, mas tudo que me surgem são imagens.
Lantejoulas, bijuterias, órbitas dos planetas, mulheres adornadas com pedrarias sobre os seios nus. Uma festa que nunca tem fim.
FESTA DOS SENTIDOS.
Ainda que durma, algo sempre permanece desperto, habitando em mim como cores, signos que nada revelam, mas eu sei, nesse império são eles que comandam. Penso como seria dormir sem qualquer órgão dos sentidos pulsando, sem no meio da noite acontecerem festas sobressaltando, despertando as sensações.

Há mil rios em mim, bifurcações que levam á vales, montanhas, de vez em quando nado em algum desvio, ou um afluente de tantas águas que fazem parte de tudo que me transformei.
É sonho quando estou acordada e incorporo, ainda em devaneio, pedaços recortados de outras mulhereres?
NÃO.  Não basta a palavra para criar sentido. Mais fácil com ela criar ilusão. Moldá-la, forjá-la no fogo da criação, dar lhe vida. E depois, espalhá-la pelos quintais, onde ainda houver um, orvalhada, brilhando ao relento e viver a invenção de seu sentido, qualquer que seja, ainda que por pura brincadeira.
Sim, houve festa. Sempre haverá quando nossos espíritos forem livres.E música, diamantes espalhados ao acaso pelos cantos, gente que ainda ousa rir, gargalhar sem querer formar com palavras frases sem sentido, invocar os filósofos para justificar sua profunda ignorância quanto á si mesmo. Elas querem somente o fogo aceso das cavernas de nossos antepassados, o sangue quente dos animais caçados servido, bebido como raro licor.

Embebeda-lhes o passado, os desenhos surgindo pelo corpo como tatuagem, estranhamente. Pulsa em seus corpos as batidas de tambor de seus ancestrais. O ritmo das celebrações do Paleolítico, quando ainda eram guerreiros á caça de carne. E o cheiro de carne entranha na memória. Transpassa as imagens.
 _ Ainda eram guerreiros? Para, pensando por um breve momento. {Será que devo?} E agora?
- O que somos o que restou de nosso passado humano? Nomeamos, rotulamos, matamos sem ter fome, e ainda assim somos aqueles que no escuro da noite precisamos  de alguém que nos ouça, que nos envolva em seus corpos para talvez esquecer os séculos que carregamos sem conseguir apreender  nenhum sentido, ou sentimento , e assim, o melhor é deixar se levar pelo corpo, esquecer ainda que por brevidade, um leve instante no tempo,  junto com outro corpo, ser pulsação, e voltar as cavernas do inconsciente e ter de novo  o poder de ser.

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